quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mulheres no Ministério Pastoral

Ganhei esse texto do Pastor Marcos Santarém, vida maravilhosa que Deus já colheu para Ele, enquanto morávamos em Cachoeiras de Macacu. 

Refletindo sobre a ordenação de mulheres ao Ministério Pastoral
Pr. Renato Vargens

1 – Introdução:
O fato se mulheres podem ser ordenadas ou não ao ministério, tem proporcionado uma série de debates na igreja evangélica nas mais distintas denominações. Infelizmente, o tema em questão, em vez de contribuir para o amadurecimento e crescimento da comunidade da fé, tem dividido igrejas e instituições de modo que denominações inteiras vêm sofrendo as conseqüências de polemizarem tal assunto.

Entre evangélicos, como comumente acontece, existem formas e maneiras diferentes de enxergar a questão: grupos distintos desenvolveram percepções diferentes quanto à ordenação de mulheres ao ministério pastoral. Como por exemplo, os igualitaristas. Esta corrente, afirma que Deus originalmente criou o homem e a mulher iguais; e que o domínio masculino sobre as mulheres foi parte do castigo divino por causa da queda, com conseqüentes reflexos sócio-culturais. Segundo os igualitaristas mediante o advento de Cristo, essa punição e reflexos foram removidos; proporcionando conseqüentemente a restauração ao plano original de Deus quanto à posição da mulher na igreja. Portanto, agora, as mulheres têm direitos iguais aos dos homens de ocupar cargos de oficialato da igreja.

Além dos igualitaristas, encontramos os diferencialistas, que por sua vez entendem que desde a criação – e, portanto, antes da queda – Deus estabeleceu papéis distintos para o homem e a mulher, visto que ambos são peculiarmente diferentes. A diferença entre eles é complementar, ou seja, o homem e a mulher, com suas características e funções distintas se completam.

A diferença de funções não implica em diferença de valor ou em inferioridade de um em relação ao outro, e as conseqüentes diferenças sócio-culturais nem sempre refletem a visão bíblica da funcionalidade distinta de cada um. O homem foi feito cabeça da mulher – esse princípio implica em diferente papel funcional do homem, que é o de liderar.

No primeiro capitulo do livro de Genesis, percebemos que ao criar o homem, Deus estabeleceu princípios que deveriam nortear suas relações com toda a criação. Note, a instrução dada por Deus ao primeiro casal:

“(...) enchei a terra e sujeita-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra” (Gn 1:28)

Deus não pediu a Adão ou o orientou para que ele dominasse Eva ou qualquer outro ser humano. Deus nunca planejou qualquer tipo de dominação ou instrumentalização de vidas humanas. O processo de dominação e instrumentalização acontece somente a partir da desobediência e da queda de Adão (Gn 3:16). Devemos usar, dominar e instrumentalizar a terra, os animais, pessoas não!

O homem não é superior a mulher, em sentido algum. Assim, os diferencialistas afirmam que diferenças de papeis e igualdade ontológica (do ser), são duas verdades perfeitamente compatíveis e bíblicas, enquanto  que os igualitaristas afirmam que diferença de papeis implica inevitavelmente em julgamento de valor.

Bem, entendendo o que dizem igualitaristas e diferencialista, voltamos à questão do nosso debate: 
“Podem mulheres ser ordenadas para servir na igreja como episcopisas (bispas) pastoras, presbiteras?”

II - O Ministério Feminino
Definindo o ministério

O que é Ministério? 
Ministério é serviço. (diakonia) e todo cristão – homem e mulher; jovem e velho – é chamado para seguir as pegadas daquele que não veio ser servido mais servir. (Mc 10:45). A única questão sobre a qual refletir é a forma que deve assumir seu ministério, e se deve colocar limites a ele; e também se a mulher deve ser ordenada.

A Evolução do pensamento quanto o papel e função das mulheres na Igreja no Decorrer da História:

A Igreja Católica Romana:

Até o final do século XIX, a igreja católica romana entendia que as mulheres não poderiam ocupar nenhum lugar de importância na Igreja. Neste período da história, as mulheres não estavam autorizadas a receber a comunhão durante o período menstrual; e, depois do parto, tinham de ser “purificadas” antes de poderem reentrar numa igreja. Era-lhes estritamente proibido tocar nos “objetos sagrados” tais como cálice, e utensílios da eucaristia. Não podiam em caso algum distribuir a comunhão. Na igreja deviam usar sempre um véu sobre a cabeça. Além disso, também estava proibido à mulher:
1- Entrar no coro, salvo para limpeza.
2- Ler as Sagradas Escrituras no púlpito.
3- Pregar.
4- Cantar no coral da igreja.
5- Servir à missa.
6- Ser membro pleno de organizações e confrarias de leigos.

A mulher era considerada em estado de castigo por causa do pecado. Era tida como responsável pelo pecado original e encarada como fonte contínua de sedução. Como poderiam criaturas pecadoras transmitir a graça de Deus? A mulher era considerada como ritualmente impura devido à menstruação. Sendo assim, como seria possível permitir que as mulheres machucassem a igreja, o coro e em particular, o altar?

A Reforma e sua contribuição

A reforma Protestante trouxe mudança de interpretação quanto à posição da mulher na Igreja. Entretanto, tanto Lutero quanto Calvino, expressaram alguma influência sobre os grupos protestantes, no que se refere à permissão às mulheres para exercerem cargos de liderança na igreja.

Lutero havia ensinado que todos os cristãos tinham o dever de desempenhar determinadas funções sacerdotais e que, sob circunstâncias incomuns, quando não houvesse um homem em disponibilidade, seria permitido que a mulher pregasse.

Calvino acreditava que as questões envolvendo o governo e o culto da igreja, diferentemente da doutrina básica, poderiam sofrer mudanças com adaptações para uma cultura particular. A igreja deveria ser sensível à cultura ao seu redor, de modo que não ofendesse indevidamente a sociedade quanto aquelas questões.

Os Batistas e os Quakers:

Houve dois grupos que deram oportunidades especiais as mulheres para que ministrassem: os Batistas do século XVII e os Quakers. Assim salientou um quakers proeminente. Visto que todos os iluminados pelo Espírito Santo o ministério da pregação, não está logicamente limitados aos homens. Os batistas e outros grupos tinham mulheres que pregavam. Há outras fontes que apóiam esta observação, pois declaram que mulheres pregavam na Holanda, na Inglaterra e em Massachusetts. Uma congregação londrina tinha cultos especiais em que mulheres pregavam, as quais, as vezes, atraiam multidões de mais de mil pessoas. As atividades das mulheres que serviam como ministras entre algumas facções de crentes do século XVII, induziram a publicação do primeiro livro em inglês em defesa da participação feminina mo ministério cristão.

John Wesley:

O movimento metodista do século XVIII, conduzido por John Wesley, de modo especial na Inglaterra e Estados Unidos, haveria de ter conseqüências significativas quanto ao ministério feminino. Wesley inicialmente resistiu a idéia de mulheres pregadoras, no entanto, com o passar do tempo finalmente admitiu que as mulheres também poderiam receber uma vocação para realizar um trabalho que sempre fora proibido por tradição: falar em reuniões, testemunhar da fé, ensinar e finalmente pregar.

A Era das Pregadoras:

O despertamento evangélico do XVIII, foi seguido de outro semelhante na primeira metade do século XIX . Neste período houve um grande afluxo de mulheres na igreja,  o século XIX tornou-se de maneira muito pronunciada, a era das mulheres.

As denominações e as mulheres no século XX:

No século XX as igrejas luteranas definitivamente aceitaram as mulheres no ministério. A igreja reformada na França em 1965 recebeu mulheres no ministério, e no ano seguinte o mesmo aconteceu na igreja da Escócia. Entre as igrejas livres britânicas desde 1917 tem-se ordenado mulheres ao ministério. Na igreja anglicana o padrão é irregular. O Bispo R. Hall de Hong Kong foi o 1° a ordenar uma mulher para o ministério (isto é: presbítera). Isto aconteceu em 1944. Em 1968, a Conferência Lambeth (de bispos anglicanos) declarou que os argumentos teológicos apresentados a favor e contra a ordenação de mulheres para o ministério são inclusivos. Entretanto em 1975 o sínodo geral da igreja da Inglaterra expressou o ponto de vista segundo o qual não há objeções fundamentais a ordenação de mulheres para o ministério.

Quanto às objeções:

É bem possível que alguns cristãos diante disto ainda pergunte:
1- Não só eram homens todos os apóstolos e presbíteros no tempo do novo Testamento?
2- Porventura não existia no NT a orientação de que as mulheres deveriam permanecer caladas na igreja e não ensinar ou ter autoridade sobre os homens?

Algumas alegações Bíblicas favoráveis a ordenação de mulheres:

1° No AT havia tanto profetisas quanto profetas, as quais eram chamadas e enviadas por Deus, para serem portadoras de sua Palavra. Mulheres como Hulda, no tempo de rei Josias (II Rs 22:14), Miriã (Ex 15:20) irmã de Moises, foram descritas como profetizas, enquanto Débora (Jz 4:04) foi mais além: ela julgou também Israel por alguns anos, resolvendo suas disputas e conduzindo-os à batalha contra os cananitas.

2° No NT, embora na verdade Jesus não tenha tido nenhuma mulher no apostolado, foi a uma mulher quem primeiro ele se revelou depois da ressurreição, tendo confiado a ela as boas novas de sua vitoria.

3° O livro de Atos e as Epistolas, por sua vez contem muitas referencias a mulheres que falavam e que trabalhavam. Como por exemplo:
a) As quatro filham não casadas de Felipe, que tinham do dom de profecia.
b) Paulo por sua vez, se refere as mulheres que oravam e profetizavam na igreja de Corinto.
c) Paulo permaneceu varias vezes na companhia de Aquila e Priscila. Priscila era evidentemente ativa no trabalho de Cristo, em seu companheirismo conjugal. Por duas vezes é mencionada antes do marido.
d) Paulo teve mulheres auxiliadoras em sua companhia, assim como Jesus. É  expressivo o n° de mulheres que menciona em suas cartas. Eudocia e Sintique, em Filipos são por ele descritos como cooperadoras (termo que também emprega para os homens como Timoteo e Tito) combatentes ao seu lado pelo evangelho. Em Romanos 16 ele se refere aproximadamente a 8 mulheres, começando pela irmã Febe, serva (e talvez diaconisa) da igreja de Cencréia. Protetora de muitos inclusive dele próprio. Envia então saudações a Maria, Trifena, Trifos, e Persis entre outras, a qual diz ele: "trabalhavam duro muito duro no serviço do Senhor".

4° Além das referencias especificas já mencionadas, há mais uma a colaborar com o ministério da mulher. É que no dia de Pentecostes, em cumprimento da profecia, Deus derramou do seu espírito sobre toda a carne – inclusive filhos e filhas e servos, homens e mulheres. Se o espírito foi dado a todos os cristãos, de ambos os sexos, também foram concedidos os dons (quer Congregacionais, quer ministeriais) a que delem procedem.

Não há evidencia, nem sequer insinuação de que os dons se restringiam ao homem. Pelo contrário, os dons do espírito foram distribuídos entre todos, para o bem comum, tornando possível o que é muitas vezes chamado de “ministério de todo membro do corpo de Cristo”. Devemos concluir que Cristo não apenas concedeu dons (inclusive o de ensinar) à mulher, mas paralelamente com os dons, chamou-a a desenvolver e exercitar esse dons em seu serviço e no serviço aos outros, para a edificação do seu corpo.

Até aqui tudo claro. Mas voltemos agora à dupla ordem dada a mulheres para permanecerem em silencio nas assembléias publicas. Como tratar então desses textos?

Em I Coríntios 14 Paulo está preocupado é com a edificação da igreja (Versos 3-5 e 26) e com decência e ordem na condução da adoração publica. (Verso 40).

A ordem de Paulo para que as mulheres ficassem em silencio é dirigida fundamentalmente a um grupo particular de mulheres, ou seja, mulheres que falavam demasiadamente, e não a todas as mulheres da igreja indistintamente. 
Assim, portanto, é um equivoco pensar a partir deste texto que Paulo estivesse defendendo a idéia de que as mulheres não deveriam falar na igreja. Da mesma forma como os que falavam em línguas deviam permanecer calados na igreja caso não houvesse interprete (verso 28), e o profeta deveria parar de falar se uma revelação fosse dada a outro. (verso 30), assim também as mulheres tagarelas e faladeiras deveriam permanecer caladas na igreja. Se tivessem perguntas, que fizessem ao marido em casa (versos 34). Porque este era o principio que parecia governar todo comportamento publico na igreja, Deus não é de confusão mais de paz. (verso 33)

Portanto o que esta em vista aqui é uma proibição para todas as mulheres de falarem na igreja. Se Paulo estivesse fazendo tal proibição ele não mencionaria que a mulher poderia profetizar:

Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se tivesse rapada.” I Co 11:05

Soma-se a isso o fato de Paulo também mencionar que todos da congregação deveriam contribuir para a edificação com salmos, doutrina, revelações, línguas e etc... Sem limitar ou restringir tais ações ou manifestações aos homens (verso 26). Muito possivelmente as mulheres as quais Paulo estava ordenando para que ficassem em silencio sejam aquelas mulheres que havia se convertendo dos cultos pagãos na cidade de Corinto. Perto desta cidade existia uma ilha chamada Agrocorinto, onde as jovens virgens das regiões próximas eram oferecidas como sacerdotisas num templo da deusa grega Afrodite. No culto profano, elas tinham  que raspar a cabeça para dirigir as cerimônias realizadas em homenagem à deus – daí a origem de outra orientação de Paulo para que, dentro do templo, elas mantivessem a cabeça coberta, possivelmente para não chamar a atenção. Convertidas pela mensagem do Evangelho, elas levavam para a igreja alguns hábitos perniciosos, como a conversa descontrolada, que chocava os crentes primitivos, impregnados de elementos da tradição judaica, onde a mulher tinha que ficar afastada do cerimonial.

John Stott acredita que existem situações nas quais é perfeitamente apropriado a mulher ensinar ao homem, visto que ao fazê-lo ela não esta usurpando uma autoridade indevida sobre ela. Para isso 3 condições precisam ser cumpridas relativamente ao conteúdo, ao contexto e ao estilo de ensino:

1) O conteúdo
Jesus escolheu indicou e inspirou seus apóstolos como mestres infalíveis da sua igreja. O conteúdo da mensagem existente na Bíblia é indiscutivelmente a Palavra de Deus. É imperioso que entendamos que o cânon das escrituras foi encerrado, e que hoje não existe apóstolos como os do primeiro século. Isto significa dizer, que não existe mais nada a ser revelado que já não fora revelado e que não esteja contido nas escrituras. Na verdade a função primaria dos mestres cristãos é guardar o deposito da doutrina apostólica no novo testamento e a expor. Portanto, o conteúdo a ser pregado deve ser exclusivamente a Palavra de Deus sem espaços para novas revelações.

2) O contexto
Em segundo lugar há o contexto do ensino, que deve ser entregue à equipe ministerial na igreja local. Quer direta ou indiretamente, Paulo indicou “presbíteros” (plural) em todas as igrejas. John Stott, afirma que muitas igrejas locais em nossos dias estão se arrependendo do ministério não bíblico de um só homem, e voltando ao modelo sadio da supervisão pastoral plural. Os membros de uma equipe podem capitalizar a soma total de seus dons, e nela deve haver seguramente uma mulher, ou mulheres. Mas mantendo o ensino bíblico da liderança masculina, John Stott acredita que um homem deve liderar a equipe.

3) O estilo
A terceira condição da aceitação do ensino pela mulher diz respeito ao estilo: Os mestres cristãos não devem ser arrogantes, sejam homens ou mulheres. Sua humildade deve manifestar-se tanto na submissão a autoridade da Escritura quanto em seu espírito de modéstia pessoal. O apóstolo Pedro, sensível a tentação de orgulho que todo líder cristão enfrenta, exorta os companheiros de presbiterado a colocarem o avental da humildade, não como dominadores dos que foram confiados aos seus cuidados pastorais, mais tornando-se modelo do rebanho de Cristo. Estas instruções aos homens seriam ainda mais claramente exemplificadas nas mulheres que atingiram sua identidade feminina e não estão tentando de algum modo assumir a identidade masculina.

Concluindo:
Parece biblicamente permissível que as mulheres ensinem aos homens, desde que o conteúdo do ensino, seja bíblico, que seja submissa a um presbítero/pastor, e cujo estilo de ministério seja feminino e humilde.

Isto significa que uma mulher poderá ser ordenada ao ministério desde que:
a) Esteja apta, bem como aprovada quanto ao conteúdo da mensagem que prega e ensina.
b) Demonstre submissão ao esposo (que de modo imprescindível tem de ter sido ordenado ao ministério)
c) Esteja submissa a um presbítero local. Implicando assim a impossibilidade de exercer qualquer tipo de atividade episcopal.
d) Exerça o seu dom com simplicidade e sem mutilar a sua própria feminilidade.

Quais a razões para as restrições à ação ministerial da mulher?
1) A ordem da criação – Primeiro foi criado o homem. A mulher foi criada por causa do homem e não o homem por causa da mulher.
2) O ensino Paulino – Paulo afirma que o homem é o cabeça da mulher, assim como Cristo é a cabeça da igreja.
3) A própria diferenciação fisiológica.

Outras considerações:
1 – O mundo vive uma grande crise quanto à sexualidade.
3 – A era da inversão de papeis na família.
4 – O pré-conceito de uma sociedade machista.
5 – Embora a Bíblia não diga nada diretamente a favor dos pastorado feminino. Também não diz nada contra.

Pr. Renato Vargens
É casado com Ana Cristina e pai de João Pedro e Luiz Filipe.
Escritor, conferencista e pastor da igreja Cristã da Aliança em Niterói - RJ

Espero que goste, seja edificado e reflita sobre o assunto.

Graça e Paz!!!

Um comentário:

  1. Nunca tinha ouvido falar em PASTORA........de uns tempos pra cá, todo mundo é pastora.
    Pastora é biblico?
    Agnes

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