quinta-feira, 21 de abril de 2016

Resistência, Transferência e Contra Transferência

Mais um trabalho meu de Psicanálise que libero para vocês....


A Resistencia, a Transferência e a Contra Transferência são conceitos fundamentais para a psicanálise. Este trabalho tem por objetivo revisar os principais pontos de cada um destes fundamentos que estão presentes em diversos textos de Freud.
A palavra “resistência”, na psicanalise, toma um sentido singular merecendo o status de conceito central. As “resistencias” são repetições de defesa realizadas pelo paciente em sua vida que age através do ego. A Resistencia é um mecanismo inconsciente ligado à parte do eu regida pelo prinicipio da realidade, que procura saidas contra a invasao dos elementos indesejáveis provenientes do proprio inconsciente e dos recalques, isto é, quanto mais pressionado o eu, mais fortemente o paciente desenvolve e se apega a resistencia. Ela é uma atitude de oposição às descobertas do analista, atrapalha o trabalho terapeutico, pois funciona como uma barreira na elucidação dos sintomas e na evolução do tratamento.
A transferencia, assim como a Contra transferencia, sofreram modificações conceituais no decorrer da obra de Freud, a teoria da transferenmcia se articula necessariamente com a da contratransferemncia. A “transferencia” aparece do contato emocional do paciente com a situação analitica.
Freud dizia que o dominio deste assunto era consequencia das experiencias nos atendimentos na clinica e da propria analise do analista, tida por ele como “necessidade fundamental”.

1.     Compreendendo a Resistência
A primeira vez que este termo foi usado, foi no relato do caso clinico da Sr.ª Elizabeth Von R, Freud escreve o seguinte: “No curso desse difícil trabalho, comecei atribuir maior importância a resistência oferecida pela paciente na reprodução de suas lembranças”. (FREUD. 1893-1895. p.178).
No livro “Hipnotismo”, Freud menciona a resistência como obstáculo para a hipnose e afirma que “sempre que surge uma intensa resistência contra o uso da hipnose, devemos renunciar ao método e esperar que o paciente, sob a influência de outras informações, aceite a ideia de ser hipnotizado”. (FREUD. 1891-1987. p.125)
Freud pode verificar que as recordações esquecidas não haviam se perdido, mas mantinham-se detidas por uma força que, denominou resistência. Neste momento, encontramos o “ponto de virada” do método catártico para o método psicanalítico, essa “virada”, se completa com a publicação de “A Interpretação do Sonho”, quando se notam que o conceito de recalcamento adquire posicionamento mais preciso através da distinção entre inconsciente e consciente, ambos entendidos como sendo sistemas psíquicos (TOMASELLI.s.d.). Ele pensava que a causa da resistência era a ameaça ao aparecimento de ideias e lembranças desagradáveis, que haviam sido reprimidas, para evitar a dor, mas que se mantinham na memoria, e acontecia para evitar dor, vergonha, culpa.
Freud foi abandonando as técnicas de hipnose, e passou a investir na livre associação do paciente, sem constrangimento, sem culpa, sem criticas, rumo à criação da própria psicanalise.
De acordo com Conedera (2009), Freud complementa sua exposição dividindo-as em cinco tipos.

2.     Tipos de Resistências
São cinco tipos de resistências que procedem de três direções: do ego, do ID e do superego. (CONEDERA. 2009)
2.1                    Resistência do Ego – é a fonte de três, cada uma diferindo em sua natureza dinâmica: a resistência da repressão, a resistência da transferência e a resistência do ganho secundário.
2.1.1               Resistencia da Repressão – que poderia ser considerada a manifestação clinica da necessidade do individuo de se defender de impulsos, recordações e sentimentos que, se emergissem na consciência. Causariam um estado de sofrimento ou ameaçariam causar tal estado.
2.1.2               Resistencia da Transferência – semelhante resistência da repressão, possui a qualidade de, ao mesmo tempo em que a exprime, também faz refletir a luta contra impulsos infantis que, sob forma indireta ou modificada, emergiram em relação á pessoa do analista.
2.1.3               Resistencia do ganho secundário – que deriva do ganho resultante da doença. Embora, inicialmente, o sintoma possa ser sentido como corpo estranho e indesejável, pode ocorrer, e muitas vezes ocorrem, um processo de assimilação do sintoma na organização psicológica do individuo.
Segundo Freud, “O ego passa agora a comportar-se como se reconhecesse que o sintoma tivesse vindo pra ficar, e a única coisa a fazer é aceitar a situação, sem afligir-se, e tirar dela a maior vantagem possível” (FREUD.1926).
Esses ganhos secundários oriundos dos sintomas são bem conhecidos sob a forma de vantagens e gratificações obtidas da condição de estar doente e de ser cuidado ou ser objeto de compadecimento dos outros, ou sob a forma de gratificação de impulsos agressivos vingativos para com aqueles que são obrigados a compartilhar o sofrimento do paciente.
2.2                    Resistencia do ID – esta necessita de elaboração, devido à resistência dos impulsos instintuais a qualquer modificação no seu modo e na sua forma de expressão.
2.3                    Resistencia do Superego – está enraizada no sentimento de culpa do paciente ou na sua necessidade de punição. Freud considerava esta resistência como a mais difícil de analisar, discernir e abordar, pois ela reflete a ação de um “sentimento inconsciente de culpa” e é responsável pela reação aparentemente paradoxal do paciente a todo passo que, na analise, represente a materialização de um ou outro impulso que vão se defendendo pressionados pela consciência moral.
Mesmo assim, Freud descreveu os tipos e fontes das resistências da seguinte maneira: “Não se deve supor que essas correções nos proporcionem um levantamento completo de todas as espécies de resistência encontradas na analise. A investigação ulterior do assunto revela que o analista tem de combater nada menos que cinco espécies de resistência, que emanam de três direções – o ego, o ID e o superego” (FREUD.1926).
            Existe uma forte relação entre resistência e recalque, a resistência mantém a ideia incompatível fora da consciência, portanto, mantem a ideia recalcada. O conceito de recalque se apresentou a teoria psicanalítica por meio do fenômeno da resistência , que aparece com o abandono da hipnose.
A resistência pode ser considerada, com relação ao recalque, a manifestação exterior desse mecanismo de defesa, cuja função é manter fora da consciência uma repressão ameaçadora. Quanto mais o trabalho analítico se aproxima de uma representação recalcada, maior e mais intensa é a resistência contra esse trabalho. (VENTURA, 2009)
Freud chega a conclusão de que todo pensamento recalcado são desejos e que este sim, sofrem recalque. São desejos que de alguma maneira não podem se realizar e por isso, são recalcados. O desejo fica retido no paciente, e assim, o sujeito não tinha conhecimento dele, era um desejo não reconhecido como próprio, um desejo inconsciente. (MACHADO, 2003)

3.     Transferência
Termo usado pela primeira vez por Freud em 1895, como uma forma de resistência, um obstáculo no processo analítico. Porém foi em 1912 que ele publicou a primeira obra dedicada, exclusivamente à transferência, intitulada “A Dinâmica da Transferência” na qual ele explica que ela não se deve ao tratamento psicanalítico, mas é devido a neurose, explica que se a necessidade de amar de um individuo não é totalmente satisfeita pela realidade, ele irá se aproximar de cada pessoa que conhecer, por isso, para Freud, a transferência é um dos elementos fundamentais para caracterizar o método do tratamento analítico.
Freud conceitualiza a transferência ao afirmar que “Transferências são reedições, reduções das reações e fantasias que, durante o avanço da análise, costumam despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do medico. Dito de outra maneira: toda uma serie de experiências psíquicas previas é revivida, não como algo do passado, mas como um vinculo atual com a pessoa do medico. Algumas são simples reimpressões, reedições inalteradas. Outras se fazem com mais arte: passam por uma moderação do seu conteúdo, uma sublimação. São. Portanto, edições revistas, e não mais reimpressões.” (FREUD, 1969, vol.7, p.109)
Segundo Laplanche e Pontalis, a transferência é entendida como: O processo pelo qual desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com ele e, eminentemente, no quadro da situação analítica.
A transferência é o deslocamento do objeto interno (feridas, perdas de amor e etc.) para a figura do analista, ou seja, o paciente vê no analista o objeto interno e passa a nutrir por ele os mesmos sentimentos que nutria pelo objeto no passado, é necessário que seja observada tanto pelo analista quanto pelo analisando, mesmo porque, a transferência poder ser positiva ou negativa, isto é, pode ser fonte de progresso ou de resistência, pois ela vem pra satisfazer as necessidades inconscientes do analisando.
A transferência é uma condição para que o tratamento ocorra, isto é, sem a transferência não existe êxito no tratamento analítico, inclusive, essa transferência é esperada e desejada pelo analista, pois sua presença permite a descoberta, bem como a compreensão, das fantasias do inconsciente do analisando.

4.     Tipos de Transferências
São três tipos de transferências, descritas por Freud em 1912: a negativa, a erótica e a positiva. Sendo que a negativa e a erótica eram as que traziam dificuldade no processo terapêutico, enquanto a positiva auxiliava.
4.1                    Transferência Negativa – é a transferência de sentimentos hostis, podendo representar também uma forma de defesa contra o aparecimento da transferência positiva, podendo coexistir com ela.
4.2                    Transferência Erótica – é a transferência de amor, quando o analisando diz estar apaixonado pelo analista. O foco das sessões será o amor que o analisando entende ou exige que deva ser retribuído. O analisando acaba resistindo a analise e coloca suas defesas em pratica para não se lembrar de ou admitir certas situações passadas.
4.3                    Transferência Positiva – é a transferência de sentimentos de simpatia e afetividade conscientes e também inconscientes, sendo este ultimo de natureza erótica.
Freud escreve o seguinte “Transferência positiva é ainda divisível em transferência de sentimentos amistosos ou afetuosos, que são admissíveis à consciência, e transferência de prolongamentos desses sentimentos no inconsciente.” (FREUD.vol.12, 1912, p.140)
            Freud também escreve que “Cada associação isolada, cada ato da pessoa em tratamento tem de levar em conta a resistência e representa uma conciliação entre as forças que estão lutando no sentido do restabelecimento e as que se lhe opõe, já descritos por mim.” (FREUD.vol.12, 1912, p.115)
            As transferências positivas e negativas precisam coexistir, esta é a condição para o tratamento psicanalítico. Freud aponta que nas psiconeuroses, sentimentos afetuosos e hostis, conscientes e inconscientes, ocorrem lado a lado e são dirigidos simultaneamente

5.     Contra Transferência
Embora tenha reconhecido a sua existência e a necessidade de mantê-la sob rigoroso controle, Freud não deixou nenhum estudo sistematizado sobre a contratransferência.
No trabalho de 1912, Freud conclui que o médico tenta compelir o paciente a ajustar seus impulsos emocionais ao tratamento e a história da sua vida, submetendo-os a consideração intelectual e a compreendê-los à luz de seus valores psíquicos, e que “esta luta, entre o medico e o paciente, entre o intelecto e a vida instintual, entre a compreensão e a procura da ação, é travada, quase exclusivamente nos fenômenos de transferência.”
Assim como a transferência, a contratransferência também foi vista como uma manifestação indesejável, algo inadequado, um obstáculo a ser vencido no tratamento, o conceito de contratransferência foi introduzido por Freud que o definiu da seguinte maneira “surge no medico como resultado da influencia que exerce o paciente sobre os seus sentimentos inconscientes”. (FREUD, 1969. P.125)
Ele ainda completa “nos sentimos quase inclinados a insistir em que ele deve reconhecer estar contratransferência existente em si mesmo e superá-la.” (FREUD, 1969. P.125)
Segundo Laplanche e Pontalis (2001) o fenômeno da contratransferência se ampliou depois de Freud, principalmente à medida que o tratamento foi sendo compreendido enquanto uma relação e também com a expansão da psicanalise a novos campos, a analise de pacientes psicóticos e de crianças, onde as reações inconscientes do analista podiam ser mais solicitadas.
Posteriormente, Freud percebeu o valor da contratransferência e recomendava o seguinte “o analista deve voltar seu próprio inconsciente como um órgão receptor para o inconsciente transmissor do paciente, de modo que o inconsciente do medico possa, a partir dos derivados do inconsciente que se comunicam reconstruir o inconsciente do paciente.” (FREUD, 1969. P.149)
A contratransferência é um conjunto de sentimentos do analista em relação ao analisando. A reação emocional do analista às projeções do analisando é um instrumento a ser compreendido pelo analista, que para ser usado, o analista deve ser capaz de controlar os sentimentos que nele foram despertados, ao invés de, como faz o analisando, descarrega-los. Ela pode ser estimulada pelas projeções do analisando, inclusive, por seus componentes de transferência.
O analista pode, inconscientemente, exprimir suas projeções amorosas ou hostis não resolvidas e ele pode reagir à transferência com a contratransferência negativa, motivo pelo qual tem que ser eliminados mediante analise didática. A analise didática é imprescindível a qualquer psicanalista, para este ser tratado e fugir dos perigos da contratransferência negativa.

 CONCLUSÃO
            De acordo com o estudo realizado, pude aprender que a resistência, a transferência e a contra transferência são conceitos centrais na compreensão da relação terapêutica nas diversas vertentes da psicanalise. A resistência é um obstáculo ao processo analítico e ao mesmo tempo possibilita o curso do tratamento, é um mecanismo de defesa que aparece na tentativa do analisando encobrir ou proteger-se de lembranças dolorosas ou como uma repetição de uma relação passada.
A transferência foi sendo reconhecida por Freud, a medida que os pacientes repetiam na sua vida a relação com o analista aquilo que já haviam vivido na infância com outras pessoas.
A contratransferência é a mais controversa e complexa até hoje, apesar de ser algo, muitas vezes, inevitável, por isso a necessidade de se manter o terapeuta em constante tratamento.

 BIBLIOGRAFIA
CONEDERA, A. C. E-book – Psicanálise e Saúde mental: A análise do sujeito psicótico na instituição psiquiátrica – São Luís/MA – EDUFMA, 2009 – www.dominiopublico.gov.br
FREUD, S. – Estudos sobre a histeria (1893-1895) – Obras psicológicas completas de Sigmund Freud – Edição: Standard Brasileira, Rio de Janeiro – Imago, 1996. Vol.II
FREUD, S. – Resistencia e repressão (1917) – Conferencia XIX – Conferencias Introdutórias Sobre Psicanalise – ESB 2ª Edição. Vol. XVI, 1987.
FREUD, S. – Inibições, sintomas e ansiedade (1926) – Um estudo autobiográfico, Rio de janeiro – Imago, 1996.
TOMASELLI, T. – Freud e o Conceito de Recalcamento – www.redepsi.com.br
FREUD, S. – A Dinâmica da Transferência (1912) – www.fundamentalpsychopathology.org
FREUD, S. – As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica – Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro – Imago, 1969. Vol. 11.
LAPLANCHE, J. E PONTALIS, J.B. (2001) – Vocabulário de Psicanalise, São Paulo www.centropsicanalise.com.br
Robert. Priscila F. P. – Agressividade e transferência na clinica Psicanalítica: De Freud a Winnincott. – www.fundamentalpsychopathology.org
ROUDINESCO, Elisabeth e PLON, Michel – Dicionário de Psicanálise – Editora Zahar – 4ª revisão de 1998.
VENTURA, R.- Os paradoxos do conceito de resistência: do mesmo a diferença. – Estudo Psicanal., Belo Horizonte, n.32, nov. 2009 www.pepsic.bvsalud.org
Machado, O.M.O. – Freudiano e o gozo 2003 – www.ebp.org.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário